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Vimos, no exemplo da parte 3, que foi necessário determinar os extremos (ou candidatos a extremos) de $f$ quando restringida a uma curva de nível no seu domínio. Designando genericamente tal curva de nível por $g(x,y) = c$, o que fizemos foi parametrizá-la por um caminho $r$ e considerar a questão do cálculo de extremos de $f \circ r$. Esta maneira de proceder tem, no entanto, o inconveniente de se ter de introduzir explicitamente uma parametrização da curva de nível, algo que poderá não ser simples de fazer em exercícios mais complicados.
Uma maneira alternativa de proceder seria a seguinte: recordar que, supondo $g$ diferenciável, o gradiente $\nabla g(x_0,y_0)$ é perpendicular aos vectores tangentes à curva em $(x_0,y_0) = r(t_0)$; observar que, no caso de $f$ e $r$ também serem diferenciáveis e de $t_0$ ser um extremante de $f \circ r$ interior ao domínio desta função,
(1)assim, $\nabla f (x_0,y_0)$ também é perpendicular aos vectores tangentes à curva em $(x_0,y_0)$, logo $\nabla f (x_0,y_0)$ e $\nabla g (x_0,y_0)$ são linearmente dependentes e portanto $(x_0,y_0)$ terá de ser solução de
(2)para algum $\lambda \in \mathbb{R}$, pelo menos nos casos em que $\nabla g (x,y) \not= 0$.
Enfim, estamos aqui a supor que se pode parametrizar (por caminho diferenciável) a curva de nível em causa, pelo menos localmente. Procedimento análogo se pode aplicar no caso de o problema envolver funções de três variáveis, situação em que teremos superfícies de nível em vez de curvas de nível e planos tangentes em vez de rectas (ou vectores) tangentes, mas novamente há que garantir a existência de parametrizações diferenciáveis para curvas na superfície de nível em causa, e curvas em número suficiente para se poder concluir. Este tipo de garantias pode obter-se impondo hipóteses adicionais aos problemas a considerar, de modo a que se possa tirar partido do chamado Teorema das funções implícitas, o qual permite ainda que se lide com problemas de cálculo de extremos (ditos condicionados, pela restrição de pertencerem a certos conjuntos de nível) envolvendo funções de qualquer número $n$ de variáveis. Omitiremos aqui o enunciado de tal teorema e apresentaremos apenas um enunciado que nos permite lidar com problemas de extremos condicionados envolvendo apenas uma restrição:
Proposição (método dos multiplicadores de Lagrange)
Sejam $U$ um aberto de $\mathbb{R}^n$ e $f$ e $g$ funções continuamente diferenciáveis em $U$. Seja $S := \{ x \in U : g(x)=c \}$, para uma constante real $c$ dada. Se $f|_S$ tem um extremo local num ponto $a \in S$ para o qual $\nabla g(a) \not= 0$, então existe $\lambda \in \mathbb{R}$, dito um multiplicador de Lagrange, tal que
(3)Exemplo
Voltamos ao passo 3 do exemplo da parte 3. Para as funções continuamente diferenciáveis $f(x,y) := x^2+y^2-x-y+1$ e $g(x,y) := x^2+y^2$ aí consideradas,
(4)Substituindo estes valores na condição $g(x,y)=1$ imposta, e resolvendo em ordem a $\lambda$, obtém-se $\lambda = 1 \pm 1/\sqrt{2}$. Substituindo, por sua vez, em (4), obtêm-se as soluções
(5)tal como anteriormente (o candidato $(1,0)$, que também se obteve atrás, não aparece agora porque, na verdade, ele não apareceria se se tivesse o cuidado de utilizar uma parametrização diferente). Observe-se que a condição $\nabla g(x,y) = 0$ não dá origem a mais nenhum candidato, pois o único ponto nessas condições é, para a função $g$ aqui em causa, o $(0,0)$, o qual não pertence ao conjunto de nível considerado.
É claro que a proposição anterior só permite descobrir os chamados pontos críticos para o problema de extremos condicionados. No entanto, num exemplo como o de cima, em que $f|_S$ é contínua e $S$ é um conjunto limitado e fechado de $\mathbb{R}^n$, o Teorema dos valores extremos garante que existem o máximo e o mínimo absolutos, logo podemos encontrá-los por comparação entre os valores da função $f$ nos pontos críticos encontrados.
No exemplo de cima isso levar-nos-ia facilmente à conclusão de que o máximo e o mínimo absolutos de $f|_S$, onde $S := \{ (x,y) \in \mathbb{R}^2 : x^2+y^2 = 1 \}$, são, respectivamente, $2+\sqrt{2}$ e $2-\sqrt{2}$, atingidos, respectivamente, em $(-\sqrt{2}/2, -\sqrt{2}/2)$ e $(\sqrt{2}/2, \sqrt{2}/2)$ (cf. também com a figura feita no final da parte 3).
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