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Se bem que adequada do ponto de vista teórico, a definição de função diferenciável, acabada de dar, não é fácil de verificar directamente na prática. Felizmente existe uma condição suficiente de muito mais fácil verificação prática e que na maioria das situações que nos interessa considerar serve perfeitamente. Enunciamos o resultado associado, mas omitimos a prova:
Proposição (condição suficiente de diferenciabilidade)
Sejam $f : D \subset \mathbb{R}^n \to \mathbb{R}$ e $a \in {\rm int}\, D$. Se as derivadas parciais de $f$ existem numa bola aberta centrada em $a$ e são contínuas em $a$, então $f$ é diferenciável em $a$.
De acordo com a discussão na parte 2, a diferenciabilidade de uma função num ponto deve garantir-nos não só a continuidade nesse ponto (como confirmámos na última proposição da parte 3), como a possibilidade de se aproximarem linearmente os valores da função para valores da variável junto a esse ponto (o que, no caso de $n=2$, está relacionado com a possibilidade de se considerar o plano tangente ao gráfico da função em ponto correspondente).
Exemplo
Considere-se a função $f$ definida em $\mathbb{R}^2$ por $f(x,y)=\sqrt{x^2+y^2}$. O seu gráfico é o cone $z=\sqrt{x^2+y^2}$, ilustrado na seguinte figura:
Ficheiro the para manipular no LiveMath Viewer: cone.the.
Exemplo de ponto onde $f$ é diferenciável e consequências:
Considere-se o ponto $(3,4)$ do domínio da função.
Como as derivadas parciais existem e são contínuas fora de $(0,0)$, sendo dadas por
(1)a proposição em cima garante-nos que a função é diferenciável em $\mathbb{R}^2 \setminus \{ (0,0) \}$, logo, em particular, também em $(3,4)$, onde $f_x(3,4)=\frac{3}{5}$ e $f_y(3,4)=\frac{4}{5}$.
O plano tangente em $(3,4,5)$ é, de acordo com a definição1 dada na parte 3, o plano de equação
(2)O valor, por exemplo, de $f(3,1;3,9)$ “deverá” então ser bem aproximado por $5 + \big(\frac{3}{5};\frac{4}{5}\big) \cdot (0,1;-0,1)$. Na verdade, o primeiro é 4,98196…, enquanto o segundo é 4,98, o que corresponde a um erro relativo de cerca de 0,04 %.
Exemplo de ponto onde $f$ não é diferenciável e consequências:
Considere-se o ponto $(0,0)$ do domínio da função.
(3)Evidentemente, $f$ não é diferenciável em $(0,0)$. Aliás, pela figura era já clara a não existência de plano tangente em $(0,0,0)$. E, qualquer que seja o plano que se considere a passar por $(0,0,0)$, há sempre pontos próximos de $(0,0)$ para os quais o valor de $f$ está muito distante da aproximação linear relacionada com tal plano.
Exercício
Considere a função $f$ definida em $\mathbb{R}^2$ por
(5)Mostre que as derivadas parciais em $(0,0)$ existem e são nulas, mas que a função não é diferenciável nesse ponto (o que, aliás, salta à vista por observação do aspecto do gráfico da função junto à origem).
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