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Comecemos por tentar definir derivada no caso de funções reais de várias variáveis. Da experiência anterior, é de suspeitar que a principal dificuldade não será passar daqui ao caso de funções vectoriais, mas sim precisamente o facto de agora termos que lidar com várias variáveis em simultâneo.
No caso de funções de uma só variável, a noção de derivada obtém-se por consideração de limites. Ora, no caso de limites, já vimos que não é uma boa ideia fazer variar apenas uma das variáveis enquanto as outras permanecem fixas. No entanto, se quisermos fazer variar o vector das variáveis independentes numa definição correspondente à caracterização de derivada como limite1 que foi dada no capítulo 1, deparamo-nos com uma dificuldade técnica: seria preciso dar um sentido a uma eventual noção de inverso multiplicativo de um vector.
A seguinte definição aparece como um compromisso entre o ideal e o impossível:
Definição de derivada segundo um vector
Seja $f : D \subset \mathbb{R}^n \to \mathbb{R}$. Sejam $a \in {\rm int}\, D$ e $u$ um vector dado em $\mathbb{R}^n$. A derivada de $f$ segundo $u$ em $a$ define-se como
(1)se este limite existir (finito).
Proposição (derivada segundo um vector como derivada ordinária)
Nas mesmas condições da definição em cima,
(2)onde $g$ é a função real definida, numa vizinhança de 0, por $g(t) = f(a+tu)$.
A prova é trivial: como $a$ é ponto interior de $D$, é possível definir $g$ da maneira indicada numa vizinhança de 0; de resto,
(3)Definições de derivada direccional e de derivadas parciais
Nas mesmas condições da definição em cima, no caso particular em que $u$ é um vector unitário a derivada segundo $u$ toma o nome especial de derivada direccional (na direcção e sentido de $u$). Se, mais em particular ainda, para um dado $k=1, \ldots, n$, $u=e_k := (\delta_{ki})_{i=1}^n$, onde $\delta_{ki}$ é o símbolo de Kronecker2, então a derivada direccional $f'_{e_k}(a)$ diz-se a derivada parcial de $f$ em $a$ (em ordem à variável na coordenada número $k$).
Designando por $(x_1, \ldots, x_n)$ o vector das variáveis, em vez de $f'_{e_k}(a)$ também se usa, para esta derivada parcial, a notação
(4)Observe-se que, de acordo com a definição dada,
(5)logo o cálculo desta derivada é o cálculo da derivada, em $a_k$, da função, de uma só variável, obtida a partir de $f$ fixando $x_i=a_i$ para todos os $i=1, \ldots, n$ tais que $i \not= k$.
Exemplo
As derivadas parciais de $f(x,y):=x^2y+y^3+2x$ em $(1,0)$ são
(6)Em vez de se calcularem as derivadas parciais de uma função em pontos específicos, poderemos estar interessados em calculá-las genericamente, obtendo dessa maneira novas funções. Além disso, mesmo quando se pretende o cálculo em pontos específicos, sendo possível é preferível obter primeiro as funções derivadas parciais, bastando depois substituir as variáveis pelos valores particulares em causa. Como é bem visível no exemplo anterior, foi esse o procedimento aí usado.
Exercício
Teste a sua habilidade para obter funções derivadas parciais, criando os seus próprios exercícios e conferindo os seus resultados com os que o LiveMath lhe dá em baixo (é aí usada uma função particular de duas variáveis reais, mas pode, como sempre, alterar a expressão e actualizar o cálculo para a função de duas variáveis que quiser considerar):
Ficheiro the para manipular no LiveMath Viewer: derivparciais.the. Para além do que se referiu acima, pode também inserir mais variáveis independentes e, assim, calcular derivadas parciais de funções de mais de duas variáveis.
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